Teoria Ator-Rede (ANT)
Na Teoria Ator-Rede (ANT) de Bruno Latour, Michel Callon, John Law e outros, o conceito de ator (ou actante) é propositalmente ampliado: não se restringe ao humano. Um ator/actante é qualquer entidade — pessoa, instituição, animal, objeto técnico, infraestrutura, documento, bactéria, software, etc. — que tenha capacidade de intervir em uma rede, de modificar o curso de uma ação ou de produzir efeitos.
O ator não humano e a narrativa
Na ANT, atores não humanos também “contam histórias”, mas de uma maneira não discursiva. Eles produzem efeitos e estabelecem traduções que podem ser lidas e interpretadas como parte de uma narrativa maior.
Latour insiste que uma rede só se torna inteligível se acompanhamos as traduções: os deslocamentos e mediações que cada ator (humano ou não) introduz. Por exemplo:
Um semáforo organiza o fluxo do trânsito e, ao fazê-lo, "narra" uma ordem de circulação.
Uma carta técnica ou projeto de lei "narra" posições, interesses e visões de mundo incorporados em seu texto e aplicados em prática.
Um vírus impõe mutações nas redes sociais e políticas, alterando agendas e mobilizando narrativas institucionais.
A narrativa, portanto, não está restrita ao relato linguístico. Ela pode ser inscrita em artefatos técnicos, protocolos, leis, objetos, mapas. Para Latour, esses dispositivos são formas materiais de contar e inscrever ações.
Como isso se articula com a ideia de narrativa
O não humano não “fala” em primeira pessoa, mas produz rastros, inscrições, efeitos que são integrados a narrativas.
A sociologia da tradução mostra que humanos constroem narrativas com base nesses rastros — mas o papel do ator não humano não pode ser apagado, porque ele é coautor da configuração da rede.
Assim, podemos dizer que: O ator não humano produz narrativa de modo performativo e inscrito, não discursivo. Ele não fala, mas age; e essa ação é uma forma de "contar" e de fazer a rede se reorganizar.
Teoria Ator-Rede: Narrativas de Atores Não Humanos
Na perspectiva da Teoria Ator-Rede (ANT), desenvolvida por Bruno Latour, Michel Callon e John Law, um ator/actante não se restringe ao humano. Qualquer entidade — pessoas, instituições, objetos técnicos, documentos, animais, softwares, infraestruturas — pode atuar na rede e produzir efeitos. Assim, atores não humanos também produzem narrativas, ainda que de forma não discursiva, mas sim performativa e inscrita em artefatos, protocolos, regras e objetos.
Urbanismo
- Mapa regulatório ou plano diretor → organiza práticas, delimita possibilidades de ocupação, cria zonas de adensamento ou exclusão. Narra uma visão de futuro urbano.
- Edifícios e infraestruturas → um viaduto reorganiza fluxos e exclusões sociais. Exemplo: viadutos de Robert Moses em Nova York que limitavam acesso de ônibus a praias.
Transportes
- Semáforos → narram regras de ordem e circulação, através das cores vermelho/verde.
- Sistema de bilhetagem eletrônica → organiza acesso, custo e trajetos possíveis. Narra um regime de circulação social e econômica.
- Ferrovia ou metrô → além do transporte, inscrevem narrativas de modernidade, progresso e centralidade urbana. O mapa da linha é uma narrativa projetada.
Tecnologia Digital
- Algoritmos de aplicativos de mobilidade (Uber, 99, Google Maps) → narram a "melhor rota", "mais barato" ou "mais rápido".
- Sensores IoT em transporte público (SIMOB em Belo Horizonte) → produzem dados que contam a cidade em tempo real e orientam decisões de planejamento.
- Plataformas digitais → botões e interfaces narram ontologias de valor. Exemplo: o botão "like" no Facebook narra um regime global de reconhecimento social.
Quadro comparativo
| Ator Humano | Ator Não Humano | Tipo de narrativa | Exemplo | 
|---|---|---|---|
| Urbanista que redige um plano diretor | Plano diretor / mapa regulatório | Narrativa normativa de futuro urbano | Zoneamento, diretrizes de ocupação | 
| Engenheiro de tráfego | Semáforo | Narrativa performativa de ordem e circulação | Vermelho = parar; Verde = seguir | 
| Usuário do transporte público | Cartão eletrônico / bilhetagem | Narrativa econômica e social do acesso | Quem pode pagar / circular | 
| Político que defende modernização | Linha de metrô / ferrovia | Narrativa material de progresso e centralidade | Expansão de linhas no mapa urbano | 
| Desenvolvedor de software | Algoritmo de rota (Uber/Google Maps) | Narrativa algorítmica de eficiência | "Melhor rota" ou "mais barata" | 
| Planejador urbano | Sensores IoT | Narrativa de dados em tempo real | SIMOB em Belo Horizonte |